Foto: Pedro Ladeira (Folhapress)
Como nas tragédias da boate Kiss e da barragem de Mariana (MG), o desastre (ou crime) do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG) ocorreu por uma série de falhas, ao que tudo indica, com base nas informações disponíveis até agora. Para começar, como engenheiros projetaram e autoridades permitiram a construção de uma sede administrativa e um refeitório justamente num local que seria atingido em caso de rompimento das barragens? Como as sirenes não funcionaram para alertar trabalhadores e moradores? Por que o sistema de monitoramento das barragens ainda é falho, já que o último laudo não apontava risco no caso de Brumadinho? Por que são permitidas barragens de terra em locais tão perigosos? Por que não são desapropriadas áreas e retirados moradores de locais abaixo de barragens com potencial tão grande de destruição? Que essa nova tragédia sirva de alerta para que questões como essas sejam avaliadas e mudanças ocorram em outras barragens.
Buscas por sobreviventes em Brumadinho são retomadas
Mesmo que as tragédias da Kiss e de Mariana, infelizmente, não tenham servido de lição para que fossem feitas mudanças eficazes nas leis e na cultura de prevenção, é preciso seguir na luta difícil para tentar evitar novas tragédias. Mas há de se admitir que há pouca esperança de grandes transformações, já que a irresponsabilidade de empresas e governos segue, assim como a impunidade. Há décadas os governos negligenciam os cuidados com segurança em várias áreas.
Que essa tragédia sirva de lição também ao governo Bolsonaro, que chamou o Ibama de indústria de multas. É preciso, sim, agilizar licenças ambientais, mas contratando mais técnicos para analisar processos e aumentar a fiscalização, e não só liberar obras de qualquer forma, sem pensar nos riscos ambientais e sociais. No caso das barragens do país, as autoridades estaduais e federais só conseguem vistoriar 3% delas a cada ano. Relatório da Agência Nacional das Águas aponta que há 45 barragens no país com risco de rompimento, inclusive duas aqui no Estado: Santa Bárbara, em Pelotas, e a de Capané, em Cachoeira do Sul. Segundo a Rádio Fandango, o Irga informou que não há motivo para alarde, mas admitiu haver três pontos de maior fragilidade no maciço e que obras de correção serão feitas este ano. Até lá, o nível é mantido bem abaixo do máximo, por questão de segurança.
O poder público não dará conta de fiscalizar e manter tantas barragens, e seguiremos com o risco de novas tragédias. E muitas empresas seguirão pressionando as autoridades a liberar obras de qualquer jeito.
A LEI DO MENOR ESFORÇO
A falta de recursos públicos e de interesse dos políticos e da sociedade em relação às causas ambientais e ações de prevenção resulta nessa situação atual. Rodovias, pontes, viadutos, barragens e prédios públicos e privados não recebem a manutenção mínima necessária. Por meio da lei do menor esforço, autoridades não destinam verbas mínimas para reparos dos bens públicos, pois o que dá voto é fazer obras novas. Mas chega um dia em que a corda estoura e as consequências podem ser muito graves.
Situação semelhante ocorre com empresas como a Vale, que, na busca incessante por lucros, coloca em risco a vida de seus funcionários, da população vizinha e o meio ambiente - mas agora, a conta vem bem salgada, para todos.